Sagrada Família: Lugar de oração e de diálogo

Amo muitíssimo a Santa Família de Nazaré e não sei por que motivo. Sei que a amo e que muitas vezes me vejo pensando nesta pequena comunidade feita de amor, de trabalho, de oração, e de dificuldades comuns a todas as famílias do mundo e a toda comunidade. Se quando estamos juntos não nos sentimos família, estamos unidos com uma comunhão de papel e tudo se desfaz quando surgem as dificuldades. A de Nazaré vive com intensidade o amor humano e o espiritual. Vive-se uma vida de fé, de esperança, uma vida de trabalho e de comunhão com todos os que vivem por aí na pequena aldeia de Nazaré.

Hoje nós devemos fixar novamente na família como Deus a pensou e a criou, como tem insistido sempre a Igreja ao longo de todos os séculos: homem e mulher com a possibilidade de gerar filhos para o Reino. Onde falta esta união entre homem e mulher com esta possibilidade de poder gerar a vida, uma união fechada, a vida se transforma numa família, não de vida, mas de morte e de egoísmo.

O amor não pode mudar de rosto nem de finalidade

Pensar que o Papa Francisco com o belíssimo documento sinodal sobre a família, a Amoris Laetitia, tem desejado mudar o rosto e essencialidade da família é uma vergonhosa manipulação de direita e de esquerda do pensamento do Papa Francisco. O amor não pode mudar de rosto nem de finalidade, é ou não é.

Neste domingo, celebramos a festa da Sagrada Família, uma família nômade, peregrina, de imigrantes que devem fugir para salvar a vida do Menino Jesus e a própria vida. Uma família feita de coragem e de esperança.

A família do projeto de Deus e do projeto de Jesus e da Igreja não está em crise, está bem de saúde, teológica, psicológica e sociologicamente. Quem está em crise são as pessoas que trazem complexos familiares ou perderam de vista a beleza do viver junto e que se encontram num beco sem saída de egoísmo e de suicídio pessoal. É evidente que cada pessoa é livre para viver com quem quer e como quer, esta liberdade nos é dada por Deus, mas querer impor com força e com violência o próprio parecer e a própria visão não tem sentido.

Família à imagem de Deus

O Papa Francisco tem dito com quatro palavras o que pensa sobre a família. Família à imagem de Deus é só, homem e mulher, e ponto final. O resto são famílias de fachada, decorativas, isto não é família. Seria necessário inventar um outro nome, eu não sou uma pessoa criativa para inventar um outro nome, mas chamaria estas uniões com este nome: dois que vivem juntos, mas nunca o nome de família.

Pode ser que essa introdução faça levantar os cabelos na testa dos carecas. Paciência. Mas a culpa não é minha, mas da mesma palavra de Deus e de Jesus: “Homem e mulher Deus os criou” (Gn 1,27).

Os filhos são um dom de Deus

Podemos deduzir essa afirmação da leitura e da meditação da história de Ana, que todos os dias vai ao templo para suplicar ao Senhor de conceder-lhe um filho. Lendo com atenção esta passagem da Palavra de Deus, ficamos maravilhados e cheios de alegria. Ela não vai oferecer o sacrifício de ação de graças pelo filho recebido de Deus, Samuel, mas Ana não vai e dá a sua belíssima explicação, ei-la: “Eu não irei enquanto o menino não for desmamado. Então o levarei para ser apresentado ao Senhor, e ali ficará para sempre”.

Sabemos que a vida de Samuel foi estar no templo servindo o Senhor e como Deus o chamara para que ele fosse todo dele: “fala, Senhor, que o teu servo te escuta” (1Sm 3,10). É urgente que os pais possam compreender que os filhos são um dos dons de Deus, não são uma propriedade privada, e que devem ser educados para o serviço de Deus e dos irmãos segundo a vocação a qual o mesmo Senhor os chama.

Educar para o serviço de Deus

E belíssimo ler esta leitura em chave familiar. A família particular se amplia na família de Deus, que é a Igreja, do povo, da comunidade. Em todos os grupos deve estar como base a palavra do Senhor, o conhecimento dos mandamentos de Deus. Devemos nos educar reciprocamente no conhecimento de Deus. Quem conhece e pratica os mandamentos de Deus vive nele. Isso nos recorda João, o evangelista. Hoje, nas famílias, perdemos o sentido das coisas de Deus, não nos educamos segundo a lei do Senhor, mas segundo os valores humanos, que não raramente nos afastam dos valores de Deus.

A santa família de Nazaré vive à sombra da Palavra do Senhor e se orienta pela Palavra do Altíssimo. Os pais têm como obrigação educar os filhos na Palavra de Deus, e os filhos educarem depois os seus filhos na Palavra do Senhor, é o mistério da Aliança que não passa, mas continua de geração em geração. Uma família sem Deus não pode subsistir por muito tempo, as tempestades da vida caem e ela se paralisa e se transforma em hotel, para dormir, mas não para viver.

Perda e reencontro de Jesus

É um texto cheio de amor e de bondade, um momento dramático da vida da família de Nazaré, onde por três dias Maria e José são dominados pela angústia, pela tristeza, pela preocupação de terem perdido o filho de Deus tão amado, do qual ele deviam cuidar. Só quem perdeu um filho sabe o que quer dizer esta dor. Pode ser que eu nunca consiga compreendê-la e considerá-la na minha vida. Sou incapaz, mas posso compreender embora com limitação.

A Virgem, com toda delicadeza, repreende o seu filho: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu estávamos angustiados, à tua procura”. E Jesus como todo jovem que faz algo dá a sua explicação que não é plenamente compreendida pelos pais, mas Maria nos ensina o segredo: conservar todas estas coisas no coração.

Jesus voltou para Nazaré e era obediente na escuta dos pais. Escutar os pais não é opcional, é um dever, e os pais devem escutar os filhos, é festa da família. Neste momento em que escrevo a Igreja e o Carmelo celebram a festa de São Luiz e Zélia Martin, os pais de Santa Teresinha do Menino Jesus, um exemplo de família unida, viveiro vocacional, lugar de oração e de diálogo.

Oração

As duas orações que a família deveria rezar sempre junto são o Pai Nosso e Ave Maria. Não esqueça.


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