Entre os dias 20 e 22 de agosto de 2024, a Arquidiocese de Manaus acolheu o V Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal. O evento reuniu bispos, cardeais, líderes pastorais, religiosos, religiosas, leigos e leigas com o objetivo de fortalecer os laços e refletir sobre os desafios e oportunidades da evangelização na Amazônia.
PRIMEIRO DIA: UMA IGREJA EM SAÍDA E O RITO AMAZÔNICO
O primeiro dia foi marcado por intensos debates sobre a necessidade de uma Igreja em saída, que se aproxima das realidades locais e promove uma evangelização inculturada. Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu, destacou a importância do Rito Amazônico como expressão da riqueza cultural da região: “O Rito Amazônico é uma resposta concreta ao chamado do Papa Francisco para que a Igreja reconheça e celebre as culturas locais, promovendo uma liturgia que reflita a espiritualidade dos povos amazônicos.” Segundo dom Neri, bispo diocesano de Juína e membro da CEAMA, o rito Amazônico é “a hora de Deus, isto é, reconhecer aquilo que acontece de ritualidade e espiritualidade nos povos originários desde muito tempo. Muito foi falado sobre isso e agora, é a hora do rito transformar-se ocasião de reconciliação da Igreja com a Amazônia, com os Povos Originários, com os Ribeirinhos, Quilombolas, as Quebradeiras de Coco, as Mulheres e os Jovens.”Ainda segundo dom Neri, o rito amazônico confirma que “a ritualidade dos povos originários é fonte viva da sua identidade cultural e espiritual. O Rito é fonte de resistência e questão de sobrevivência dos Povos Originários.”
SEGUNDO DIA: MINISTERIALIDADE E CONTINUIDADE DAS LINHAS DE SANTARÉM
No segundo dia, os diálogos centraram-se na ministerialidade na Amazônia, com especial atenção à valorização dos ministérios leigos e à presença das mulheres na Igreja. Foram apresentadas reflexões sobre a necessidade de fortalecer a atuação dos leigos, especialmente em áreas de difícil acesso, onde eles desempenham um papel crucial na manutenção da vida eclesial. As vozes femininas foram amplamente ouvidas, destacando-se a importância de uma maior inclusão das mulheres em espaços de decisão e liderança na Igreja. Também foram debatidos os desafios e avanços desde o Documento de Santarém, com um olhar voltado para a continuidade das linhas traçadas e a necessidade de se adaptar às novas realidades da região.
TERCEIRO DIA: ESPERANÇA E NOVOS CAMINHOS
O terceiro e último dia foi dedicado à memória e esperança, com reflexões sobre os frutos do Sínodo para a Amazônia e as novas direções para a missão evangelizadora na região. Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, falou sobre a importância de manter viva a memória dos mártires da Amazônia e de continuar a luta por justiça e paz: “A esperança é a força que nos move a continuar caminhando, mesmo diante das adversidades. A Amazônia é uma terra de mártires, mas também é uma terra de esperança, onde a Igreja deve continuar a ser sinal de vida e de luz.”
CARTA DE DISCERNIMENTO SOBRE A POLÍTICA DE 2024 E OUTRAS CARTAS
No encerramento do encontro, os bispos da Amazônia lançaram uma carta de discernimento sobre a política para o ano de 2024, na qual afirmam: “Convocamos todos os fiéis a serem protagonistas na construção de uma sociedade que respire os valores do Evangelho, onde a dignidade humana, a justiça e a paz sejam alicerces inabaláveis. Não podemos nos omitir diante das escolhas políticas que impactarão diretamente o futuro da Amazônia e de seu povo.” Voto pela Amazônia. A carta também destacou a importância da participação ativa dos cristãos na vida pública, incentivando um discernimento sábio e responsável: “É imperativo que cada cristão se envolva nas questões políticas com discernimento e compromisso, promovendo políticas que respeitem a criação e os direitos dos povos, especialmente os mais vulneráveis.” Além desta carta de discernimento político, outras cartas foram lançadas durante o evento, abordando temas cruciais como a proteção do meio ambiente, a defesa dos direitos dos povos indígenas e a urgência de um desenvolvimento sustentável na região amazônica. O V Encontro dos Bispos da Amazônia reafirmou o compromisso da Igreja em caminhar ao lado dos povos da Amazônia, alargando sua tenda e sendo presença viva de Cristo na região. Este evento marca não apenas a continuidade de uma missão histórica, mas também a renovação da esperança em uma Igreja que se fez carne e armou sua tenda entre nós.