“A cruz, sinal do mais terrível entre os suplícios, é para o cristão a árvore da vida, o tálamo, o trono, o altar da nova aliança. De Cristo, novo Adão adormecido na cruz, jorrou o admirável sacramento de toda a Igreja. A cruz é o sinal do senhorio de Cristo sobre os que no Batismo são configurados a ele na morte e na glória (cf. Rm 6,5). Na tradição dos Padres, a cruz é o sinal do Filho do homem que comparecerá no fim dos tempos (cf. Mt 24,30). A festa da Exaltação da Cruz, que no Oriente é comparada àquela da Páscoa, relaciona-se com a dedicação das basílicas constantinianas construídas no Gólgota e sobre o sepulcro de Cristo”.
“Nós, porém, pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos” (I Cor 1,23)
Dom Eurico dos Santos Veloso – Arcebispo emérito de Juiz de Fora
Hoje, 14 de setembro, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz, fonte da santidade e símbolo da libertação, onde através da morte de Jesus na cruz, revela a vitória da Vida sobre o pecado, a morte e o mal.
“A Festa da Exaltação da Santa Cruz, que celebramos em 14 de setembro, é a Festa da Exaltação do Cristo vencedor. A celebração tem origem no século IV, quando a Verdadeira Cruz de Jesus foi descoberta, em 326, por Santa Helena de Constantinopla, mãe do imperador Constantino I, durante peregrinação à cidade de Jerusalém.
A santa descobriu as três cruzes usadas na crucifixão de Jesus e de dois ladrões, Dimas e Gesmas (conf. Legenda Áurea, 1260, do dominicano e futuro arcebispo de Gênova Jacopo de Varazze, beato). Um milagre revelou qual das três era a cruz verdadeira, a Vera Cruz de Cristo. A Basílica do Santo Sepulcro de Jerusalém foi construída no local da descoberta e dedicada nove anos após, em 335, com uma parte da cruz em exposição.
Em 13 de setembro daquele 335 ocorreu a dedicação da igreja e a cruz foi posta em exposição no dia 14, para que os fiéis pudessem orar diante da relíquia e venerá-la, refletindo sobre Jesus que nela sofreu. Santo Eusébio, São Cirilo, Santo Ambrósio, Teófanes, Rufino, Calisto etc., foram alguns dos que aclamaram a descoberta da Santa Cruz, mas Calvino e Lutero zombaram das parcelas da verdadeira Cruz espalhadas pelo mundo como relíquias. Essas parcelas, diziam eles, dariam para construir um edifício.
A estrutura atual é uma síntese dos edifícios de Constantino e do edifício dos cruzados e foi dedicada em 15 de julho de 1149. A Basílica reúne os lugares ligados à morte e ressurreição de Jesus, sublinhando a unidade dos dois mistérios. Os mistérios que se realizaram neste lugar o fizeram santo. Por isso, essa solenidade celebra e renova mais uma vez a alegria pascal”.
Tal data recorda a dedicação das Basílicas sobre o Gólgota e o Sepulcro de Cristo ressuscitado. Também, faz-se memória da vitória de Heraclio sobre os persas (630 d.C), dos quais foram recuperados as relíquias da cruz e, solenemente, transladadas para Jerusálem.
Embora tenha todo este simbolismo por detrás da data, a essência principal da Festa da Exaltação da Santa Cruz é recordar e vivenciar a Paixão que nos libertou de nossas paixões; é exaltar a Cruz que condenou e esmagou o pecado em cada um de nós; é recordar dos cravos encravados nas mãos d‘Aquele que apagou o castigo do mal em cada um de nós. Afinal, todo aquele que olha a Cruz encontra Jesus Cristo que, “existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-8).
Ora, tudo isto foi realizado por Amor, com Amor e pelo Amor, pois “do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (cf. Jo 3,14-16).
Em suma, que possamos reconhecer, verdadeiramente, a profundidade do amor de Jesus por nós e pela humanidade, inspirando através deste ato de Amor, replicar a entrega deste mesmo Amor pelos nossos irmãos através da redenção e felicidade.
Oração:
“Deus, todo poderoso, que sofreste a morte sobre o madeiro sagrado, por todos os nossos pecados, sede comigo Santa Cruz de Jesus Cristo, compadecei-vos de nós, Santa Cruz de Jesus Cristo, compadecei-vos de mim, Santa Cruz de Jesus Cristo, sede a minha esperança. Santa Cruz de Jesus Cristo, afastai de mim toda arma cortante. Santa Cruz de Jesus Cristo, derramai em mim todo bem. Santa Cruz de Jesus Cristo, desviai de mim todo mal. Santa Cruz de Jesus Cristo, fazei que eu siga o caminho da salvação. Santa Cruz de Jesus Cristo, livrai-me dos acidentes corporais. Santa Cruz de Jesus Cristo, vós adoro para sempre. Santa Cruz de Jesus Cristo, fazei com que o espírito maligno e infalível se afaste de mim. Conduzi-me Jesus à vida eterna. Amém. Por todos e em todos os séculos dos séculos. Amém.”